Primeiro de Dezembro 2024

Alan Dubner
9 min readDec 2, 2024

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Casa das Rosas na Virada Sustentável

Esse é o meu 60º texto que escrevo em todo primeiro dia de cada mês. Começou em janeiro de 2020 e a partir de abril do mesmo ano comecei a publicar regularmente por aqui. A ideia original era ter um texto contextualizando o período em que eu estaria escrevendo um livro. A pandemia aconteceu e muitos outros contextos locais e mundiais foram se desdobrando. Hoje, cinco anos depois, eu e o mundo somos outro. Eu me tornei avô, entendi que a transformação passa pelo caminho da luz e do amor. Reconheci que meu papel de atuação é muito mais internamente e no meu entorno do que no exterior. Acredito que sou um ser espiritual de amor e luz vivendo uma experiência humana.

O mundo, por sua vez, viveu experiências inéditas. O mundo parou! O que parecia ser uma obra de ficção científica aconteceu, a humanidade parou quase que totalmente. Esse fato poderia ter sido aquele alerta emergencial de saúde que nos leva a UTI com alto risco de morrer e, por milagre, sobrevivemos! Ao sairmos dessa situação o normal seria alterarmos completamente nosso estilo de vida para que nunca mais isso pudesse ocorrer. Só que não! A humanidade retornou ao “modus operandi” dos maus hábitos rumo ao colapso. Nesse ano de 2024 conseguiu ultrapassar a marca de 1,5 graus Celsius considerada limite para o aumento dos desastres ambientais. Foi o que assistimos, principalmente, nesses dois últimos anos. Inundações, queimadas e secas como nunca vimos antes.

E as guerras? Será que é um novo normal?

Me deixa triste ver pessoas escolhendo uma guerra dentre tantas que estão ocorrendo para agir como um torcedor polarizado sem ter a menor noção do que realmente está acontecendo.

A invasão da Rússia, prestes a completar três anos, já ficou tão banal que nem se fala mais dela como algo absolutamente inadmissível. Mesmo diante do atual escalonamento para um conflito nuclear. No dia 21 de novembro a Rússia disparou contra a Ucrânia, PELA PRIMEIRA VEZ NA HISTÓRIA, um míssil intercontinental desenhado para uso em guerra nuclear.

Todas as guerras são inadmissíveis num mundo que se diz civilizado. Quando isso é “normalizado” é o começo do fim dessa civilização. A crise civilizatória em que estamos vivendo optou por não cessar as ações que nos levará a encerrar, muito mais cedo, mais uma civilização que habitou esse planeta. A dúvida repousa em como será a próxima civilização, se é que haverá a possibilidade de existência para a nossa humanidade. Por que escolhemos isso?

Quanto a política… o que dizer?

Ao mesmo tempo, na humanidade, existe uma grande onda da sociedade civil que está produzindo milhões de iniciativas e ações maravilhosas de regeneração ao redor do mundo. Elas estão, pouco a pouco, emergindo em silêncio e ocupando os espaços degradados. Esperança do verbo esperançar!

As eleições americanas, de alguma forma, vão definir uma parte significativa do que será o mundo a partir do próximo ano. Trump? Que foi isso? Todas as pesquisas erraram feio, nenhuma apresentou o resultado ocorrido. Como assim? Venho dizendo há anos que as pesquisas eleitorais funcionam como profecia autorrealizável. Principalmente porque a grande maioria não tem ideia do que está fazendo e tem a tendência a votar no candidato que está na frente para sentir que sua escolha/aposta foi vitoriosa. Parece ridículo, mas é isso mesmo. Outro fator importante de viés e interferência no eleitorado é que as pesquisas eleitorais vão sendo divulgadas pelos resultados que foram induzidos e não pela resposta espontânea que mostra a realidade de que a grande maioria ainda não tem ideia em quem vai votar. Ao longo dos meses que antecedem, as pesquisas vão apenas definindo o que aconteceria com o resultado caso fossem usados artifícios de indução. Os números são divulgados como se refletissem uma realidade objetiva, quando na verdade apresentam apenas uma ilusão criada pela indução. Para parecerem justos, apresentam em “letras miúdas” num canto que poucos vão ler, o resultado das respostas espontâneas. Quando os resultados reais saem não existe qualquer percepção de que as pesquisas moldaram a opinião pública, mesmo quando aparecem erros aqui e acolá, as pessoas costumam relevar. Nessa eleição americana TODAS as pesquisas erraram grosseiramente não conseguindo mensurar a vitória acachapante do Trump. Me engana que eu gosto, parece ser a principal razão delas terem, em todas as eleições, tanto espaço nas mídias e nas conversas aleatórias.

A vitória do Trump é a derrota da democracia para um mundo interdependente. Um dos motivos que contribuíram para sua vitória foram as trapalhadas do partido Democrata. Desde a eleições de 2016, onde Hillary perdeu para o Trump, o partido democrata vem atuando de forma pouco democrata, como a pernada que deu em Bernie Sanders que veio a público para vergonha do partido. Nessa eleição os atos antidemocratas foram piores ainda. Ao invés de permitir uma eleição para a escolha do candidato, o partido preferiu abolir as votações internas e impor o Biden como candidato. Como assim? Pois é… com essa ruptura de integridade, o visível declínio na saúde do Biden e a tentativa de continuar impondo sua candidatura, a democracia também estava morrendo no partido democrata. A entrada espalhafatosa do Elon Musk, sem dúvida ajudou a tornar o circo dos absurdos mais midiático. Será que ele já tinha isso em mente quando comprou o Twitter? O surpreendente apoio do Bob Kennedy Jr. que talvez teria sido eleito candidato se os Democratas tivessem sido democratas. Com certeza o tiro que passou por um fio, também ajudou, seja pela mídia que gerou, seja pelo sentimento de comoção ou simplesmente pela sensação de que a culpa indireta é do adversário. Fico pensando se as condenações ajudaram também. Tudo é tão surreal que parece roteiro de ficção sem cabimento.

É difícil admitir que a civilização esteja escolhendo ir por esse caminho. Vai contra a Natureza, vai contra quem Somos, vai contra até as crenças e valores de qualquer Religião.

Cop29 — Tragédia anunciada!

Como se já não bastasse o resultado da eleição americana, as traquinagens de Baku vão se refletir no que podemos esperar da esperada e esperançada COP30 em Belém. O modelo de atuação das COPs não tem funcionado há muito tempo. Todo ano repetem o mesmo formato, todo ano os resultados são insignificantes, todo ano é a mesma coisa. Continuar fazendo a mesma coisa sempre, só pode levar a obter o mesmo resultado. As três últimas COPs foram em países que reprimiam fortemente as ações da sociedade civil e as manifestações. Com isso um movimento, da sociedade civil, que começou com mais intensidade na COP20 no Peru e cresceu significativamente na COP21 na França, foram tendo melhores resultados do que os da ONU. Isso caminhou bem até a COP26 na Escócia. Depois disso os três países do petróleo conseguiram abafar essas iniciativas. O que esperar da COP30? Algum resultado diferente dos demais? Para que isso ocorra precisamos fazer muita coisa diferente. Será que faremos?

A COP29 definiu o artigo 6º (mercado de carbono) que já estava certo de que o fariam. Portanto nada de novo aí. Era para ser uma COP do financiamento, mas fracassou retumbantemente. Dos 1,3 trilhões de dólares por ano, reduziram para apenas 300 bilhões com origens variadas (públicas e privadas) e de formas variadas (empréstimos e doações). E isso só foi resolvido porque ficaram o sábado todo negociando até a madrugada do domingo. As incertezas de como serão conduzidos esses repasses, deixa uma sensação de que não serão cumpridos… como não foram os 100 bilhões de dólares por ano que já estava acordado.

Fracasso e tristeza que já estava anunciado!

A cobertura de cada item não vou reproduzir aqui, e sim, direcionar um ótimo resumo produzido pela LACLIMA (Latin American Climate Lawers Initiative for Mobilization Action) bem completo e com links para mais detalhamentos.

https://laclima.org/acordoparis/resumao-da-cop-29

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O Observatório do Clima montou um site “Central da COP” com uma linguagem de futebol. Conteúdo maravilhoso, analogias geniais e com muito humor. Quer saber o que aconteceu na COP29 clique em centraldacop.oc.eco.br

G20 vai ficar para um outro momento. Principalmente o G20 Social.

Virada Sustentável terminou hoje em São Paulo e estive presente na organização das atividades da Casa das Rosas na av. Paulista. Foi extraordinário!

O Jogo PoN — A Ilha dos Tatus, realizado pelo Instituto Cultural da Dinamarca, é uma iniciativa educativa que combina diversão com aprendizado, despertando a consciência ambiental e inspirando ações concretas.

Foi apresentado o Projeto Galerias que é uma ação sociocultural que reúne artistas visuais de todo o Brasil para transformar comunidades carentes em Galerias de Arte a Céu Aberto, por meio do muralismo. Criado por Guataçara Monteiro e João Paulo Pessoa em 2019, o projeto já teve três edições: e visa a valorização da cultura regional, o incentivo à economia criativa, empreendedorismo e turismo de base comunitária, tendo a Arte como ferramenta de transformação que, além de colorir casas, empodera pessoas. Foi apresentado na Casa das Rosas pelos artistas muralistas Kelvin Koubik e Laura Lolli que participaram do Projeto Galerias.

O Gandhi esteve presente, no lindo terraço repaginado da Casa das Rosas, na interpretação do ator João Signorelli num espetáculo mais curto. O espetáculo apresenta Mahatma Gandhi anunciando o início de mais um jejum para despertar a consciência dos líderes do Ocidente e do Oriente para a paz mundial, propondo que os povos deixem de se basear em pensamentos desequilibrados, em preconceitos e sentimentos sombrios. O monólogo falou ainda sobre a trajetória do líder e da importância da consciência pela paz e da conduta única.

Tivemos o lançamento inédito no Brasil do filme “Water is Love”, de Ludwig Schramm, Rosa Pannitschka e Martin Winiecki, que acompanha um grupo de jovens lutando contra a crise climática. Por meio de histórias inspiradoras de projetos bem-sucedidos na Índia, Quênia e Portugal, pretende-se estimular conversas e ações que contribuam para um mundo regenerativo e resiliente. Como estamos enfrentando tanto os crescentes impactos devastadores da interrupção climática quanto a falha dos governos em agir, este filme aponta para uma necessidade e possibilidade frequentemente negligenciadas: a gestão descentralizada da água conduzida pela comunidade como uma chave crítica para sobreviver — e prosperar — neste século. Depois teve uma roda de conversa comigo, o Claudinho Miranda e o Caio Ferraz.

A “Maquete Dinâmica” da Água criada pelo prof. José Carlos Perdigão foi a grande sensação do sábado e de hoje (domingo). Ele demonstra da maneira simples e eficaz o ciclo da água. Mostra porque as áreas sem vegetação são inundadas e causam devastações enquanto áreas preservadas, absorvem as águas da chuva e alimentam as nascentes. Quem esteve lá não esquecerá jamais. Além disso os participantes recebiam mudas de espécies nativas. Foi muito lindo ver as pessoas circulando pela Casa das Rosas e pelos arredores da av. Paulista levando suas mudas na mão. Parecia um ritual sagrado pela Sustentabilidade.

Esteve presente o Jogo da Sustentabilidade, um grande tabuleiro no chão onde, jovens e adultos, aprendem e apreendem a entender sistemicamente a sustentabilidade. Um jogo de tabuleiro e cartas que já foi jogado por grupos no Brasil inteiro. Criado pela Fundação Rede Brasil Sustentável o jogo “Sustentabilidade em Curso” explica de forma didática a história da luta socioambiental, os acontecimentos climáticos, seus conceitos, causas, efeitos e soluções. Ele é um artifício para o diálogo de questões de sustentabilidade local.

Tivemos uma conversa regenerativa com a ambientalista Claudia Visoni e a biourbanista Lara Freitas sobre árvores, hortas, compostagem, águas urbanas e soluções baseadas na natureza para melhorar o lugar onde a gente vive e nos prepararmos para os extremos climáticos.

A Slam das Minas SP realizou a grande final da temporada 2024, com 7 poetas finalistas. Foram três rodadas eliminatórias, sendo a primeira inspirada no tema da virada: Sustentabilidade, com foco nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU e foi encerrado com um pocketshow da Sistah Chilli.

Para as crianças o pessoal do “Famílias pelo Clima” preparou um jogo de educação climática no jardim. Foi um momento de muita descontração e aprendizagem pela sustentabilidade.

A sala lotou com a roda de conversa sobre Educação Decolonial: reflexões a partir da cultura Guarani, com Jerá Guarani e Bia Tadema (Schumacher Brasil).

Teve o lançamento da Cartilha: Educação Climática — Guia prático para Famílias e Educadores, por Daniela Vianna, Samantha Graiki Proença, Lívia Ribeiro e Mariana Menezes.

Apresentamos também o documentário do cineasta Caio Ferraz “De onde vem a água”, terceiro episódio da websérie do projeto VOLUME VIVO, mostra como o modo de uso e ocupação do solo no Brasil, marcado fortemente pelo desmatamento, não considera os biomas locais e seus serviços ecossistêmicos. Por meio de entrevistas com especialistas, o documentário explica como o ritmo da água vem se alterando e impactando os ciclos de chuvas locais e a fixação de água no continente.

Novembro muito movimentado, por hoje é só!

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Alan Dubner
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Written by Alan Dubner

Consultoria em Sistemas de Aprendizagem e Educação para Sustentabilidade

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