Primeiro de Janeiro
Bom dia 2022!
Como você será? Será mais generoso do que o ano anterior? Será que ainda dá tempo de fazer alguns pedidos?
Por favor não nos deixe voltar ao anormal e nem a um novo anormal. Não nos deixe repetir as obscenidades e atrocidades das eleições de 2018, para que as pessoas possam votar a favor de seus melhores e não contra os seus piores. Não permita que as florestas, as águas, a terra e a atmosfera sejam aniquiladas como vem sendo nos últimos dez anos, principalmente nos últimos três. Proteja os povos indígenas com suas mais de 300 etnias em que suas sabedorias planetárias estão se fazendo tão necessárias. Cuide muito bem dos artistas e de suas manifestações. Que a cultura seja percebida como gênero de primeira necessidade. Que a educação aproveite o tsunami da pandemia e migre do século 19 para o 21. Chega de fingir que se ensina e que se aprende. Que não se use em vão o nome da ciência para justificar qualquer argumento. Que a medicina possa cuidar mais da saúde do que da doença. Que a fé venha pela espiritualidade. Que a religião perceba que somos todos um. Que o COVID e suas variantes sejam mais gentis e nos una ao invés de nos dividir. Que a diversidade seja vista e reconhecida como uma grande vantagem sociocultural. Que a economia e os economistas percebam, finalmente, que são gestores da ecologia. Que uma governança eticamente responsável prevaleça. Que a Estocolmo+50 tenha resultados significativos!
Será que é pedir muito? Se for, sei que não estou sozinho!
Estamos na era das incertezas… isso é certeza! Edgar Morin que o diga!
O que aconteceu em dezembro de 2021?
CUIDADO: Não olhe para cima!
No dia 24 de dezembro o Netflix lançou o filme “Don’t Look Up” (Não olhe para cima). Procurei desligar todos os meus preconceitos que me fariam não ver o filme. Preciso confessar que gostei do resultado. É uma caricatura com todo tipo de humor, vai do pastelão ao escrachado, do politicamente muito incorreto ao sutilmente ácido. É uma sátira do que está acontecendo hoje em relação a emergência climática. Ele conversa e se relaciona com o público em geral que não tem muita noção do que está acontecendo ao seu redor com relação ao governo, as mídias, as empresas e provavelmente não imagina que os caricaturados são o próprio público que está vendo o filme. O fato do roteiro ter sido escrito antes da pandemia dá um tom quase profético à cadeia de eventos que relacionam a insignificância dos chefes de estado em relação a um problema de grande magnitude civilizatória e sua subserviência ao capital privado.
A ideia é simples, um cometa está vindo em direção ao nosso planeta e, em pouco tempo, vai se chocar causando nossa extinção. Genial! Até hoje, as evidências de que estamos rumando à extinção não deram certo porque preferimos acreditar no inacreditável. Acreditamos coletivamente em coisas que não existem e somos chamados a colaborar com essa ficção. Estamos tão envolvidos nela que a chamamos de realidade. No entanto, vira e mexe, aparecem verdades inconvenientes que nos levam a preferir aceitar mentiras convenientes para continuarmos no jogo. Quando Al Gore, lançou o documentário “Uma Verdade Inconveniente” em 2006 acreditei que agora o mundo não refutaria as evidências tão claras das mudanças climáticas e de que seria impossível ignorá-las. Mesmo com todas as tentativas de desbancá-lo, quando ganhou o Prêmio Nobel da Paz, em 2007, junto com o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) fiquei aliviado de que agora o mundo todo se conscientizaria e começaria a agir nessa direção. Lembrando que esse conhecimento não era novo, vinha desde 1972 (Estocolmo) e fortemente confirmado em na Rio 92. Me senti como o personagem do Leonardo DiCaprio, sem ser um cientista, chocado que o mundo escolhia não ver! Completamente abismado com tudo em volta que mantinha a farsa. Essa sensação continuou a me ocorrer muitas vezes depois disso. Em 2010 no primeiro Fórum Mundial de Sustentabilidade em Manaus, em 2012 na Rio+20, em 2015 na COP21 em Paris, em 2018 no Fórum Mundial da Água em Brasília, em 2019 na Cúpula do Clima da ONU em Nova York e virtualmente na COP26 em Glascow.
Quais são as verdades inconvenientes que não podem aparecer?
Fiz uma lista rápida de algumas que me ocorreram. Claro que tem as mais óbvias que são criadas, quase que diariamente, pelo atual governo federal. Mas vamos a minha listinha: origens da soja transgênica no Brasil; liberação sistemática dos agrotóxicos; COP26 e a Ômicron pelo mundo; usina de Belo Monte; indústria da proteína animal; agricultura predatória; Código Florestal; indústria da pesca; escândalo da FIFA; escândalo da Petrobras; pedofilia na igreja e muito mais verdades inconvenientes que precisam de lastro nas mentiras convenientes (Fake News) para manterem a realidade da ficção.
Nem o diretor do filme, Andy McKay, olhou para cima!
Numa conversa entre o diretor e boa parte do elenco após o lançamento do filme, Andy McKay (diretor) pergunta, no final, o que cada um faria nos últimos momentos do mundo. Assim que Leonardo DiCaprio diz que faria exatamente como está no filme, Andy diz que comeria um sanduíche gigante de carne (Philly Cheese Steake), na contramão do que o filme está procurando denunciar… ou seja ele também faz parte da indústria que se alimenta da ignorância alheia através da sua própria. Irônico, para dizer o mínimo! A indústria da proteína animal é, talvez, uma das mais sensíveis verdades inconvenientes… mesmo entre os ambientalistas.
Conversa (em inglês): “Don’t Look Up” Cast Breaks Down Their New Netflix Comedy | Around the Table | Entertainment Weekly
E mais de dezembro:
Gabriel Boric foi eleito presidente do Chile. Terá 36 anos quando assumir em março. O que significa isso? Possível prever alguma coisa? Torcendo para que seja uma ótima oportunidade para uma real guinada na maneira de se fazer política. O mundo está de olho nos próximos passos do Chile e torce para que os resultados sejam bons. Porém, estamos na era das incertezas!
Uma notícia que me deixou muito triste foi o fechamento da edição do El País Brasil, do qual assinava. A qualidade jornalística e independente com a brilhante liderança da jornalista Carla Jimenez e com colunistas de muita qualidade como a Eliane Brum, vai fazer falta… muita falta!
As enchentes na Bahia foram as piores dos últimos 30 anos e 153 municípios já decretaram situação de emergência (climática?). O governo Federal parece não estar olhando para essa tragédia como deveria, além disso recusou a ajuda humanitária externa oferecida pela Argentina.
Antes de tudo isso a Agência Pública fez uma ótima reportagem mostrando os privilégios com a água do Cerrado baiano.
A situação na Amazonia só piora, principalmente pelo desmonte dos sistemas de fiscalização e liberação explícita para o extrativismo ilegal dos recursos naturais. Uma reportagem da Hellen Guimarães para a Revista Piauí mostra os crimes em série na Amazônia.
Apesar das promessas durante a COP26, os varejistas globais continuam comprando carne ligada ao desmatamento. Uma investigação da Repórter Brasil mostra os elos que conectam a pecuária ligada ao desmatamento na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal com supermercados na Europa e Estados Unidos.
Alerta Ômicron — Olhem para cima! Estamos vivendo um momento surreal no Brasil. Enquanto a maioria da população brasileira acredita que o COVID está dando uma trégua por aqui e até mesmo comemorando o fim da pandemia, os números de infecções tem aumentado numa proporção nunca vista antes. Como os sistemas de informações estão completamente instáveis o principal indicador é o pessoal. Você nunca viu tantas pessoas próximas testando positivo. Além disso seria completamente sem noção acreditar que a Europa e os EUA estão tendo um aumento gigantesco de casos, nas últimas duas semanas, e que isso não vai se refletir no Brasil. Ainda não sabemos se a nova variante será uma redução dos casos graves ou se continuará a afetar mais gravemente uma percentagem ainda significativa da população. A pandemia ainda não acabou!
É preciso olhar para cima… para baixo, para os lados, para frente e para trás
O meu livro do ano de 2021 é o “Lições de um Século de Vida” do Edgar Morin.
O filme de 2021 é o documentário “Rompendo Barreiras” com David Attenborough.
Até o mês que vem! Tenho a sensação de que será um daqueles meses que parecem um ano!
Há exatamente dois anos eu iniciava essa série de cartas escritas no primeiro dia de cada mês. A ideia é que seria um capítulo reportando o dia a dia de cada mês. O desafio que me coloquei era de começar e terminar o texto no dia 1 de cada mês, independentemente de como seria meu dia. Seriam minhas impressões expressas espontaneamente, sem qualquer elaboração prévia ou posterior. A primeira carta foi escrita no primeiro dia do último ano da segunda década do século 21 (01/01/2020) e estamos hoje no primeiro dia do segundo ano da terceira década, mergulhados de corpo, mente e alma no tema principal do livro: Percepção!