Primeiro de Julho 2024

Alan Dubner
8 min readJul 2, 2024

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Ativismo Delicado

Na semana passada tive o privilégio de estar, por dois dias, com um pequeno grupo organizado pela Escola Schumacher Brasil, com Allan Kaplan e a Sue Davidoff. Entre as questões emergentes estavam a tragédia anunciada do Rio Grande do Sul. Através da sensibilidade e sensibilização do olhar de contemplação plena sem julgamentos ou pré-conceitos de separação, chegamos a um entendimento para ações muito mais poderosas do que simplesmente partir para a ação emergencial sem ver sistemicamente. Essa visão não exige análises, basta ver para que a natureza da observação se revele. Foi muito forte e impactante a simplicidade e o poder do resultado. Recomendo fortemente o livro que a Escola Schumacher Brasil viabilizou para nós.

Segue um texto, da página 17, do recém-lançado livro em português:

Ativismo Delicado

Uma abordagem radical para as mudanças

Allan Kaplan e Sue Davidoff

“Nossa ecologia está tão fragilizada e nosso tecido social tão esgarçado, que cada passo buscando gerar melhorias de vida tem se tornado um risco de emaranhar ainda mais essa trama, Nossas pegadas já estão em todo lugar e ainda assim parece que simplesmente continuamos pisoteando nossas melhores intenções. Talvez algo esteja nos escapando, uma vez que nossas inúmeras tentativas de trabalhar com mudanças parecem emperrar em suas próprias pressuposições. Como podemos abordar o mundo de outro jeito?

Este livro explora uma maneira, uma prática, a que denominamos “ativismo delicado”, um caminho que demanda uma profunda reavaliação do papel que temos realmente desempenhado nos processos de mudança social. Parece que um ativismo que enfatiza a ação em detrimento da reflexão; que recompensa os efeitos externos e ignora a consciência interna; que foca no outro, mas oclui o eu; que exalta resultados (quase como se eles fossem commodities), sem suficiente preocupação pelo processo que os geram, não é capaz de acompanhar as complexidades das atuais mudanças sociais.

Ironicamente, ele nos torna espectadores ao invés de participantes e, na verdade, retarda mudanças. Um ativismo delicado é verdadeiramente radical por ser consciente de si próprio e por compreender que seu modo de enxergar é a mudança que se quer ver. Isso anuncia uma mudança sísmica em direção a uma forma mais social e ecológica de ativismo, voltada para um futuro que sustenta a vida.”

Editora Bambual https://bambualeditora.com.br/p/ativismo-delicado/

Tudo que existe está intimamente ligado com a Energia e, no entanto, não temos uma visão sistêmica do que isso significa. O que fez a vida existir e se desenvolver foi a energia, da geração do oxigênio e da água às formas mais sofisticadas da Natureza. A humanidade aprendeu a dominar as diferentes formas de energia, começando pelo fogo, até chegarmos aos dias de hoje onde perdemos completamente a noção de que não somos separados da Natureza, ao contrário, dependemos completamente dela para sobrevivermos. Por causa desse desvio de percepção estamos rumando a extinção da nossa civilização como a conhecemos hoje. Essa crise civilizatória é diferente de tantas outras civilizações humanas que foram extintas no passado. Estamos inviabilizando, com nossas ações, a existência humana em todo o planeta e não apenas numa região geográfica específica. Dos povos indígenas que nunca foram contactados até as ilas mais remotas do pacífico serão afetadas rumando à extinção. Lamentavelmente já passamos do ponto da conservação, preservação, mitigação, resiliência e até mesmo da adaptação. Estamos indo além da sustentabilidade, estamos tendo que lidar com a regeneração. Se insistirmos em nos manter como estamos, como a humanidade vem insistindo, teremos um futuro bem desafiador para sobreviver… num tempo que será determinado pelas nossas ações de hoje.

A principal pergunta a nos fazer é o que aconteceu com a nossa atual civilização que insiste em rumar em direção a nossa autodestruição.

Sabem aquela piada do sujeito que cai de cima do prédio e na metade da queda diz: “até aqui tudo bem!”. Pois é, estamos numa situação de queda e uma grande parte dessa família humana diz que está tudo bem. Seja por ganância, por negacionismo ou simplesmente por ignorância. Os que estão por ganância conseguem manipular uma grande parte da população a negar as evidências cientificas, negar a relação espiritual com a natureza e principalmente negar amor às próximas gerações.

Que mundo é esse? Para onde estamos indo? Tem alguma coisa bem errada com o ser humano. O mundo quer a extrema direita, por quê? Como assim? Vejam o que estão fazendo alguns presidentes:

Na França, o presidente Macron, teve um piripaque e, na surdina, convocou eleições relâmpago que ontem (30/06) resultaram num tiro no pé do seu próprio governo, fortalecendo a extrema direita RN (Reunião Nacional). Foi uma eleição com o maior número de franceses votando desde 1997. Lembrou as absurdalidades do Brexit há oito anos. Vamos ver se esse resultado se consolida no segundo turno no próximo dia 7 de julho.

Nos Estados Unidos, na última quinta-feira (27/06), o presidente Biden causou comoção ao evidenciar suas dificuldades de saúde durante o primeiro debate presidencial. A situação foi tão calamitosa que parecia ter sido uma estratégia dos Democratas para substituir o seu candidato. Mas quem poderia substituí-lo? Kamala Harris? Andy Beshear, Gina Raimondo, Gavin Newsom, Jared Polis, JB Pritzker, Josh Shapiro, Gretchen Whitmer, Raphael Warnock, Hakeem Jeffries, Pete Buttigieg, mais alguém? Todos na Faixa dos 40/60 anos! Se as leis americanas fossem como as brasileiras, teriam o Obama para facilmente vencer por uma terceira vez. Como o partido Democrata se colocou nessa situação? Está parecendo o respeitado PSDB quando foi desmantelado pelo Aécio Neves em 2014. Será que é o início do fim dos Democratas? E da Democracia? Eles não parecem ter plano B, a ponto de cogitarem manterem o Biden como candidato. O partido queimou o barco que poderia realizar um recuo estratégico até a Convenção Nacional em 19 de agosto. E com isso eliminou todas as possibilidades, com o objetivo de escolher unilateralmente o Biden. Eu, pessoalmente, teria escolhido o Bob Kennedy Jr. Preferiram destruir a credibilidade de uma ótima possibilidade, com uma onda gigantesca de fake news como a do tsunami de mentiras produzidas contra a Marina Silva em 2014. Outro Kennedy, que fez um excelente governo na Califórnia, e teria tudo para se tornar um ótimo presidente dos EUA, mas por ter nascido na Áustria não pode se candidatar. O ambientalista, político e exterminador do futuro, Arnold Schwarzenegger teria sido uma ótima opção para o país do norte. Pelo menos esses dois Kennedys, não tiveram o trágico fim dos dois anteriores. Estou batendo três vezes na madeira aqui.

Quanto ao Biden não se trata de uma questão de idade e sim de saúde para governar. O Edgar Morin era apenas um “menino” aos 81 anos. Continuou bem ativo nas duas décadas seguintes e deverá fazer 103 anos na próxima semana. O Trump tem só três anos a menos. Não é uma questão de idade!

Enquanto isso o Supremo Tribunal americano, inacreditavelmente, dá maior imunidade ao condenado Donald Trump, que hoje mesmo começou um esforço para anular a condenação criminal de Nova York e postergar a sentença prevista para 11 de julho próximo. Se fosse um livro de ficção diriam que a história era exageradamente fantasiosa para parecer, minimamente, verdadeira. Como diria a Clarice Lispector “A realidade é inacreditável!”.

No Brasil, o presidente Lula parece ter se esquecido de que quem venceu as eleições foi a Frente Ampla e não ele — muito menos o “centrão”. Sinceramente não consigo mais reconhecer uma esquerda no Brasil. Temos, cada vez mais, uma extrema direita e uma não tão extrema direita. O presidente parece ter se esquecido, também, das promessas feitas desde a COP27 no Egito e reafirmadas ao longo de muitos eventos. Porém a insistência em manter a desnecessária e prejudicial, ao país, exploração do Petróleo. Já passamos o vexame de na COP28 ter vazado que o Brasil aderiu a OPEP+. A notícia era tão absurda, que parecia fake news da indústria do ódio dos Bolsonaristas. Quando se confirmou a patacoada, o mundo todo começou a repensar como ver as reais intenções do Brasil por trás do discurso. De verdade, não consigo entender a tara do Alexandre Silveira em prejudicar o Brasil. A anuência ou cumplicidade do presidente é mais incompreensível ainda. Por que quer passar para a história ao lado de figuras que praticaram crimes contra a humanidade? Dizer que o Petróleo vai pagar a conta da transição energética e tão ridículo quanto dizer que as Drogas vão pagar a conta contra o narcotráfico. Espero, que seja lá o que for que o esteja movendo na direção do precipício, PARE! G20, COP30, COP16 e muitos outros marcos vão ser vitais para os caminhos do Brasil no mundo. O que ele vai escolher?

Na Rússia, o presidente Putin continua sua escalada da violência e parece que não recebeu e nem está recebendo a reprovação de indignação mundial. Não há uma comoção das Universidades ou de qualquer outra comunidade que não esteja diretamente sofrendo as atrocidades dessa guerra. São 859 dias da invasão Russa na Ucrânia! Repetindo, são 859 dias de destruição, matanças, estupros… E tudo bem?

Na Hungria, o presidente Viktor Orbán assume hoje a presidência da União Europeia. Oi??? Não é Fake News? Não! E está, ridiculamente, usando o slogan do Trump “Make Europe Great Again”. Parece piada pronta! Amanhã faz uma viagem surpresa para Kiev. Não sei mais o que dizer sobre isso!

Em Israel, Benjamin Netanyahu continua no poder. Algo inacreditável e inconcebível! Ter conseguido ficar tanto tempo no poder, com os estragos que vinha fazendo desde 1996 tomando o lugar do Shimon Peres, menos de um ano depois do assassinato de Yitzhak Rabin por um extremista de direita. Como foi possível eleger, logo depois, um primeiro-ministro da extrema direita?

Tem muitos outros presidentes e líderes de países levando nossa humanidade para um caminho sem volta. Para uma extrema direita! Por que continuamos a votar ou a aceitar que estejam fazendo o que estão fazendo contra todos nós?

Sei que comecei esse texto com o ativismo delicado e o estou finalizando com algo não delicado. Fiquei impactado com os ventos vindo do Norte e da Europa, nem vou mencionar a Asia. Fiquei impactado com a negligência, dos últimos anos, em relação ao querido e culturalmente avançado Rio Grande do sul. Sofri muito com as queimadas no Pantanal causado por predadores, criminosos conscientes ou não, agora identificados. O Cerrados… o cerrado! Os garimpeiros! Por outro lado, fico muito feliz que tenhamos pessoas íntegras e competentes como a Marina Silva e o grande número de pessoas que ela alocou aos mais diversos espaços para cuidarem da nossas riquezas socioambientais. São pessoas que emanam luz e amor que me fazem acreditar que, talvez, a humanidade toda possa se iluminar.

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Alan Dubner

Consultoria em Sistemas de Aprendizagem e Educação para Sustentabilidade