Primeiro de junho 2023

Alan Dubner
5 min readJun 2, 2023

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A Vaca foi pro Brejo

Hoje minha neta faz 3 anos e daqui alguns dias meu neto fará três meses. São para eles e seus descendentes que busco ser um ser humano que contribui para uma humanidade saudável e sustentável. O presente e o futuro deles dependem das ações que cometemos hoje.

Maio começou bem com um encontro presencial do Observatório do Clima com mais de 150 ambientalistas de 71 instituições. Foram três dias de muita aprendizagem, troca de informações e principalmente desenhando ações de políticas públicas para a sustentabilidade. O último dia do encontro foi coroado com a presença da ministra Marina Silva.

Por que alguém, em sã consciência, faria mal aos seus filhos e prejudicaria o futuro de seus descendentes? Por que uma mãe, em sã consciência, daria alimentos com veneno aos seus filhos? Por que um empresário, em sã consciência, aceitaria fingir que está agindo de forma sustentável sabendo que está prejudicando a sociedade e o meio ambiente? Por que um político, em sã consciência, se prestaria a mentir para favorecer interesses econômicos escusos? Por quê?

O Brasil, no dia 24 de maio de 2023, deu um gigantesco passo para voltar a ser um pária mundial. Em cenas vergonhosas de imbecilidades explícitas, o Congresso Nacional num único dia aniquilou mecanismos de proteção da Mata Atlântica, avançou por cima dos direitos das terras indígenas (marco temporal) e esvaziou o Ministério do Meio Ambiente. Essas ações ocorreram diante do silêncio ensurdecedor do Executivo. Onde estavam as declarações fortes e sensatas de que o “Brasil Voltou”? As repercussões, pelo mundo todo, foram de estarrecimentos. Parece um sinal claro de que se o Brasil não reverter esses absurdos, voltará sim… a ser um pária do mundo. Segue um ótimo texto da Eliane Brum.

E para piorar enormemente no dia 30 de maio de 2023, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei do marco temporal. Foi mais uma conquista da bancada ruralista e uma derrota para o Brasil. Inimaginável pensar que o texto-base foi aprovado por 283 pessoas que tem famílias, são cidadãos brasileiros e se fazem passar por representantes do povo. Triste! Depois de terem alguns dias antes desidratado os ministérios do Meio Ambiente e dos Povos Indígenas. Como será que vão explicar para seus netos os atos cometidos nesses últimos dias?

Ótima matéria do ISA (Instituto Socioambiental) e do The Guardian (com foto maravilhosa).

Estão usando a palavra desenvolvimento para justificar atrocidades contra a natureza, seja no oceano, nas florestas ou nas comunidades que estão no caminho de atrapalhar os projetos de avareza e corrupção. Enquanto “Desenvolvimento” for sinônimo de mecanismos que levam a destruição da humanidade, precisamos parar de olhar com simpatia para essa palavra. A etimologia da palavra significa: DES prefixo de negação ou ausência; EN (IN em latim) movimento para dentro; VOLVER (VOLVERE em latim) reverter, rolar, virar; MENTO sufixo que significa ação. Que o desenvolvimento humano, econômico, social, cognitivo, pessoal, sustentável não seja hackeado por falastrões que o usam para justificar crimes contra a humanidade. Não caia nessa! Que possamos ter mais “envolvimento” com o que realmente seja desenvolvimento planetário!

Os políticos do Amapá e simpatizantes com a exploração do petróleo na Foz do Amazonas estão falando mentiras que as pessoas tendem a acreditar por conta das premissas que vai gerar empregos e riqueza. Esse é discurso absolutamente político e sem qualquer credibilidade. É uma questão de perspectiva. Veja o exemplo da estrela Betelgeuse que desde 2019 está gerando especulações de que pode explodir (supernova) por causa do comportamento estranho de sua luz. Ela está há mais de 700 anos luz da Terra, ou seja, o que estamos vendo aconteceu há mais de 700 anos. Nem por isso ao olharmos para seu brilho temos a percepção (equivocada) que a estamos vendo no momento presente. A exploração do petróleo na foz do Amazonas vai, possivelmente (se acharem petróleo), agregar valor só daqui há 20 anos. Ou seja, com a transição energética caminhando a passos largos e rápidos, será que ainda existirá alguma demanda a mais para os combustíveis fósseis? Eu pessoalmente acredito que não! E eles sabem disso, estão usando uma retórica para manipular e enganar as pessoas a serviço da indústria do petróleo. Só nos resta perguntar o que ganham com isso? Basta ver todos as outras promessas de “desenvolvimento” local feitas anteriormente. O caso de Belo Monte foi bem similar, mentiras atrás de mentiras para construírem a maior e mais cara hidroelétrica brasileira, hoje sabemos do resultado: um fiasco retumbante! Uma vergonha em todos os aspectos. Destruição da floresta Amazônica, desvio do rio Xingu, dano irreparável ao ecossistema que mantinha as comunidades ribeirinhas e indígenas, cidades do entorno como Altamira foram enganadas pelas promessas de “desenvolvimento”. E não foi por falta de avisos, ativismos, pareceres técnicos reais e tantas manifestações contrárias. Até o cineasta James Cameron entrou nessa luta contra a barbaridade, só não pôde dizer que o filme Avatar retrata bem essa tragédia porque causaria um problema nas relações internacionais com o Brasil. Ele participou do 1º Fórum Mundial de Sustentabilidade em Manaus, onde estive presente, em março de 2010.

Trecho de artigo publicado no New York Times em abril de 2010 :

“Nos 15 anos desde que escreveu o roteiro de “Avatar”, sua história épica de ganância contra a natureza, disse Cameron, ele se tornou um ávido ambientalista. Mas ele disse que até sua viagem à Amazônia brasileira no mês passado, sua defesa se limitava principalmente à maneira ambientalmente responsável que ele tentou viver sua vida: energia solar e eólica alimentam sua casa em Santa Bárbara, disse ele, e ele e sua esposa dirigem veículos híbridos e fazem sua própria jardinagem orgânica.”

Não poderia deixar de falar que daqui a quatro dias, no dia mundial do meio ambiente, o assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips fará um ano. Escrevi um texto no dia 1º de julho de 2022 relatando o caso. O Jornal inglês The Guardian, onde Dom Phillips era correspondente, publicou hoje uma reportagem completa sobre o emblemático caso.

Só para lembrar são 463 dias da invasão da Rússia na Ucrânia. E?

Inicia hoje o mês do Meio Ambiente, teremos muitas ações e reações a serem trabalhadas. Espero, sinceramente, que possamos reverter a situação da última semana. Espero que o Agronegócio não deixe a bancada ruralista e os políticos do centrão acabarem com seus negócios no Brasil e no mundo. Espero que a vaca não vá para o brejo! Tenho esperança, esperança do verbo esperançar! Pelos nossos filhos, netos e demais descendentes!

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Alan Dubner
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Written by Alan Dubner

Consultoria em Sistemas de Aprendizagem e Educação para Sustentabilidade

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