Primeiro de Junho

Alan Dubner
6 min readJun 2, 2021

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Primeiro dia do mês do meio ambiente.

Ontem a noite a semana do meio ambiente foi aberta pelo encontro dos ex-ministros do meio ambiente, “Seminário do Meio Ambiente: Política ambiental brasileira e os desafios da sustentabilidade”. A conversa foi na boa direção de gerar ações imediatas!

Vamos acompanhar os movimentos e ativações desse mês crucial!

A Polarização Reina

Num momento em que a polarização reina, falar sobre qualquer tema não gera diálogo e sim o ódio da torcida oposta. E os reféns da mídia não conseguem submergir para ouvir as mais coloridas vozes da nossa interdependência.

A chamada pós verdade impera num ambiente que incendeiam as cognições e quando alguma dissonância aparece no front é logo calada pela nossa atávica dificuldade de lidar com as dissonâncias cognitivas.

Toda essa filosofia acima para dizer que devemos ouvir as vozes que estão sendo caladas para formarmos nossas próprias crenças e, se possível, deixá-las flexíveis a novas vozes.

Tenho escutado regularmente que precisamos ouvir a ciência. É um argumento que subentende que existe uma verdade cientifica e quem não a segue é negacionista. Cabe aqui a pergunta do que seja ciência. Ciência é basicamente a arte de não saber! É a arte de fazer descobertas! O método científico é aquele que confirma uma hipótese através de repetidas tentativas que geram o mesmo resultado. Isso vale até que outra hipótese anule a anterior. Hoje até a lei da gravidade de Newton está sendo cientificamente questionada. Isso para não ir mais longe e falar da matéria escura. Cada área da ciência tem seus diferentes pontos de vista (isso é saudável) por isso dizer que algo é cientificamente comprovado significa apenas dizer que dentro do amplo espectro da ciência aquele experimento específico recebeu a atenção de alguns cientistas. Quanto a COVID 19 não existe nada cientificamente comprovado… nada! Portanto quando dizem que alguma coisa, ligada a pandemia, não tem comprovação científica… estão falando o óbvio! Nada, na pandemia, tem comprovação científica! O que tem comprovação científica se refere aos vírus em geral — lavar as mãos, máscaras distanciamento físico e por aí vai. Nenhuma ciência específica do novo Coronavírus consegui comprovar cientificamente alguma coisa. Portanto a ciência não comprovou de onde veio o vírus, por que existe um percentual grande de infectados assintomáticos, quais remédios ajudam no tratamento, quais não ajudam, quais superfícies retem o vírus por algum tempo e até mesmo a eficácia das vacinas. No entanto diariamente ouvimos que A é cientificamente comprovado e que B não tem comprovação cientifica. O que nos faz acreditar nisso? O que nos faz desacreditar nisso? Na pandemia estamos aprendendo enquanto sofremos suas consequências, estamos construindo o avião no voo. Enquanto os conhecimentos se ampliam, se aumenta, também, nossa ignorância.

Vivemos na infância da espécie humana, os horizontes representados pela biologia molecular, o DNA, a cosmologia começa a se descortinar. Nós não passamos de crianças em busca de respostas, e à medida que a ilha do conhecimento se amplia, se alargam também as margens da nossa ignorância.” John Wheeler

E quanto aos Números?

Uma das distrações que mais contribuem para fazer a gente acreditar que uma informação ou notícia é verdadeira são os números. Parece ciência… mas não é! Tudo nessa sociedade funciona com números. O tempo tem minutos, horas, dias, meses, anos. Qualquer notícia vem acompanhada de números. O dinheiro são números que exercem uma enorme influência no nosso dia a dia. Por mais matemático que os números pareçam são apenas entidades virtuais. Se percebermos a virtualidade dos números estaremos mais próximos de nos libertarmos deles e das “verdades” que nos trazem. Fique tranquilo, a leitura desse texto levará menos de 20 minutos e conterá apenas 1.477 palavras, todas fáceis de entender. Quanto ao tempo que levará refletindo no assunto ficará por sua conta e risco.

Vamos começar com o tempo. Quanto tempo leva para alguém perceber que está caminhado na direção errada? Difícil responder! São tantas variáveis que inviabilizam um cálculo mais preciso. No entanto somos diariamente bombardeados por declarações que prometem nos reconduzir ao caminho certo em pouco tempo. Seja na Saúde — sua dor de cabeça vai sumir tomando esse analgésico — você vai emagrecer 5 quilos em apenas 10 dias com a dieta da moda — beba quanto quiser que o Enganove vai resolver sua ressaca. Na Economia — você terá autonomia financeira em apenas 6 meses criando sua rede de vendas nessa franquia — compre seu televisor em 12 prestações sem juros — baixe o aplicativo grátis — crédito automático de R$ 3.000,00. Na educação — você terá um bom emprego em apenas 12 anos de estudo numa escola e um melhor ainda com mais 4 anos de estudo numa universidade — não fique sem emprego faça um curso profissionalizante de 3 meses e saia na frente — aprenda inglês sem sair de casa em apenas 6 meses. Na política — se eleito vou acabar com a corrupção — sua contribuição sindical vai melhorar sua condição de trabalho — vamos mudar!

Tempo é dinheiro — Essa afirmação é normalmente entendida como o tempo tendo um valor monetário comparativo. Acredito que essa informação significa literalmente que tempo é dinheiro, ou seja, o tempo é igual ao dinheiro. Esse entendimento permite fazer uma analogia maravilhosa que as leis que se aplicam a um… equivalem ao outro. Portanto posso dizer que nos comportamos com o tempo da mesma maneira que nos comportamos com o dinheiro e vice-versa. Como é a sua relação com o dinheiro? E com o tempo? Está sempre faltando? Você é generoso em doar seu tempo? Seu dinheiro? Você tem tempo sobrando? Você tem gastado dinheiro com o que realmente é importante ou você fica procrastinando? Como você lida com o tempo dos outros? Você nunca se atrasa em encontros?

Pandemia ou Pandemônio?

Estamos num momento de introspecção e de regeneração do nosso Ser, da nossa Alma.

Para alguns é mais fácil fingir que está tudo bem ou tudo ruim, para não ter que mergulhar na tomada de consciência (awareness). O problema é que vão pagar a conta lá na frente, seja pela saúde ou pela dificuldade de interdependência. Para aqueles que estão numa jornada de busca interior não dá para fingir porque já não conseguimos mais enganar a nós mesmos. Então dói! O que temos que nos trabalhar é para aceitar que a dor é inevitável, enquanto o sofrimento é voluntário.

A nossa dor não é fácil de ser compreendida pelo outro, assim como o “não sofrer” também. Essa certa solidão nos faz pedir ajuda para outros companheiros dessa estrada que o Joseph Campbell chama de monomito (a jornada do herói).

Também aqui nesse primeiro de junho, com minhas dores e com a atenção voltada para o aqui agora — para não cair na tentação do sofrimento.

Autopoiese de Maturana e Varela

Dois chilenos maravilhosos, ícones do pensamento sistêmico e criadores do conceito de Autopoiese.

Francisco Varela nos deixou, há exatos 20 anos, nesse 28 de maio. Deixando um legado formidável que continua a reverberar até hoje. Ele foi responsável, entre outras coisas, pelos encontros da Ciência com o Budismo do Dalai Lama (Mind & Life) gerando uma infinidade de conhecimentos e sabedorias. Criador do conceito de Autopoiese junto com Humberto Maturana no início dos anos 70. Foram muitos encontros de celebração do Varela, entre eles, a mostra de filmes do diretor Franz Reichle (Monte Grande, Mind & Life e Francisco Cisco Pancho).

Humberto Maturana nos deixou no dia 6 maio passado e tivemos dezenas de eventos em sua homenagem. Hoje à noite tivemos o encontro da Palas Athena com a Lia Diskin. A contribuição de Maturana para o entendimento da vida e dos sistemas que a compõem serão sempre as bases do conhecimento do Ser humano. Durante a pandemia ele participou de dezenas de conversas e entrevistas que ainda tenho muitas para assistir.

Gratidão Humberto Maturana e Francisco Varela!!!!

Para minha Neta

Oi, pequena! Oi, princesa da Natureza! Hoje faz um ano que você chegou, abriu os olhos e chorou pela primeira vez!

Apesar do mundo estar em pandemia, tenho esperanças (do verbo esperançar) que está nascendo uma nova possibilidade civilizatória. Será muito pouco provável que permaneceremos nesse formato destrutivo. Claro que dá medo, claro que não sabemos ainda a direção a seguir. Mas seu avô acredita que a sua geração já estará sendo governada por jovens que acreditarão que a interdependência é a única forma de convivermos em harmonia com a Natureza. Saberão o que todos já deveriam saber hoje… que somos natureza! Como te disse há um ano, será uma nova sociedade voltada para ampliação da consciência e restauração ecológica. Não haverá economia sem ecologia, educação sem aprendizagem, religião sem espiritualidade, política sem cidadania e nem medicina sem saúde.

Você já me ensinou tanto nesses últimos 12 meses! Agradeço sua Presença, seu Ser e sua Paz. Princesa da Natureza… sei que vai ouvir os chamados… sei que vai atender o seu propósito! Sei que te amo!

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Alan Dubner
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Written by Alan Dubner

Consultoria em Sistemas de Aprendizagem e Educação para Sustentabilidade

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