Primeiro de Novembro 2024

Alan Dubner
6 min readNov 2, 2024

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Txai Suruí chorando depois da abordagem dos seguranças da ONU na COP16 — Foto: Mayara Subtil

A Hora e a vez da Sustentabilidade

Quero começar dizendo que a palavra “Sustentabilidade” está, sim, desgastada. Porém, ainda não encontramos outra para substituí-la. O que é importante é o significado que atribuímos a ela. Entre seus muitos significados, o que está se evidenciando é a sua importância diante da Emergência Climática. Enquanto existe a indústria da lavagem verde (greenwashing), principalmente no ESG, o público tem a sensação de que está sendo feito alguma coisa em relação à sustentabilidade.

Passamos outubro com intensas ações e reações com cenas de degradação civilizatória explícitas, seja nas eleições municipais ou, até mesmo pior, na sessão (dia 16) da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara.

As eleições, mais uma vez, provaram que não atendem às necessidades da Democracia… elas servem para explicitar o sistema doentio que há anos está implantado. No primeiro turno, que deveria ser o momento em que você expressa qual o candidato da sua escolha, lamentavelmente, a escolha é naquele que você acredita que tem mais chances de vencer aquele que você não quer de jeito nenhum. Para piorar o parâmetro usado são as pesquisas que acabam gerando o efeito da profecia autorrealizável. A dissonância cognitiva em relação aos erros de previsão das pesquisas é tão forte que raramente você verá alguém apontando as falhas. Raramente se utilizam dos números da pesquisa espontânea, mais próxima da realidade, preferem a “manipulada”. E depois os resultados são apresentados sem incluir a totalidade dos 9.322.444 eleitores da cidade São Paulo, com o subterfúgio de validar só o que interessa esse sistema enviesado.

Votei com alegria na Tabata Amaral e lamento que nas últimas muitas eleições as pessoas façam voto inútil. Sai completamente do objetivo das eleições que é saber qual a preferência do eleitor. Isso não existe mais, vão para o segundo turno — sempre — os dois mais detestados pelos eleitores. Com isso vence — sempre — um dos dois mais detestados. Que lógica é essa? Dos marqueteiros? Dos algoritmos? Da insanidade que a nossa tênue democracia alcançou. Triste!

Os resultados do primeiro turno na cidade de São Paulo, onde os três primeiros colocados nas pesquisas, protagonizaram as mais vergonhosas “baixarias” já vistas numa eleição, foram:

Em primeiro lugar venceu NINGUÉM com 34,46% entre Nulos, Brancos e Abstenções

Em segundo venceu Ricardo Nunes com 19,32%

Em terceiro venceu o Guilherme Boulos com 19,05%

e em quarto lugar perdeu o Pablo Marçal com 18,44%

Qual a fotografia desse primeiro turno? A grande maioria preferiu não escolher alguém! Seja pela abstenção, seja pelo protesto ou seja pela atitude (consciente ou não) de que tanto faz qualquer um.

A polarização abriu ramificações para receber cenas grotescas explícitas. Se o que aconteceu, durante a campanha, fosse um roteiro de um livro ou filme, seria ridicularizado por não ter qualquer semelhança com a realidade. Esses episódios sem qualquer noção do que deveria ser o (decoro) de um político, passaram de todos os possíveis limites para abrir uma nova categoria de degenerados. Com isso os personagens desse teatro burlesco, deixaram de ter importância diante das pessoas que resolveram votar nelas. Vamos pensar um pouco… se uma pessoa completamente desajustada, corrupta, imoral, criminosa, manipuladora e mentirosa quiser ser candidatar… tudo bem! A questão mais grave são os que vão votar nela. Quem são os eleitores que votam em pessoas assim? Como é possível que tamanha desqualificação tenha tantos eleitores a ponto de os elegerem vereadores, deputados, prefeitos e até mesmo presidente? Isso é o mais difícil de entender, se é que é possível entender.

No segundo turno, pela primeira vez, anulei meu voto. Não tive como escolher o “menos pior” dos candidatos à prefeitura de São Paulo e muito menos os vices que escolheram. No primeiro turno votei na Tabata Amaral e no segundo fiz uma coisa que já tinha quase feito na eleição presidencial de 2018, anulei meu voto! Compareci a urna e registrei meu tímido e ineficaz protesto.

Em primeiríssimo lugar venceu NINGUÉM com 39% entre nulos, brancos e abstenções,

Em segundo lugar venceu o Nunes com 36% e em terceiro perdeu o Boulos com 25%

Qual foi a fotografia desse segundo turno? Apagão em São Paulo, Boulos beija a mão de Marçal, prefeito de Porto Alegre consegue se reeleger apesar das inundações e tantas outras cenas difíceis de digerir. Será que realmente o sistema eleitoral favorece a Democracia. Como já escrevi muitas vezes, acredito que não. O eleitorado não está qualificado para isso e qualquer Tiririca (pior não fica) consegue uma quantidade gigantesca de votos. Votos que elegeram deputados que não tem a menor noção do que o Brasil está passando e nem do que está precisando, protagonizando um vexame imenso na sessão da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara. Cito só alguns dos mais “sem noção” e nocivos ao país e principalmente ao agronegócio: Evair de Melo, Julia Zanata, Marcel Van Hattem, Nikolas Ferreira entre outros. Fico pensando nas pessoas que votaram nelas para serem representados contra seus próprios interesses. E assim caminha a humanidade…

Outubro foi também o mês da COP16 da biodiversidade que terminou hoje. Uma COP bem importante num momento delicado do mundo. Delicadíssimo aliás! Anteontem (quarta 30/10) a nossa Txaí Suruí foi detida, de forma brusca, na COP16 (ONU) enquanto fazia um protesto pacífico. Só foi liberada depois da intervenção da Ministra Marina Silva. Simbolicamente ilustra o que está se passando com quem deveria estar protegendo a floresta viva e seus guardiões. Em 2021 Txaí fez o discurso de abertura da COP26 em Glascow. A jovem ativista e a Marina Silva são o exemplo do que o Brasil tem de melhor e juntas se fizeram ouvir nesse ambiente de cancelamentos e antidemocráticos. Muito orgulho das duas!

O mês de novembro deve ser o mais importante do ano, daqui quatro dias teremos as eleições americanas, as mais importantes das últimas décadas e a mais importante para o mundo. Ela vai definir se será o início do fim ou o início de uma esperança de regeneração. Logo saberemos! Na semana seguinte será a COP29 hospedada mais uma vez num estado da indústria do Petróleo. Ainda não sei como foi possível as últimas três COPs estarem nesses países que navegam na contramão da sustentabilidade. A importância dessa COP para o Brasil é alinhar os rumos para a COP30 no Brasil. Espero que a próxima COP (Belém) não seja num país que segue rumo a perfuração de mais petróleo. Espero do verbo esperançar. Dou minha pequena contribuição para que a gente vá nessa direção. Será um desastre se formos, também, na contramão da sustentabilidade. Desastre de repercussão para o planeta todo.

Temos também nesse mês de novembro o G20 onde o Brasil vem trabalhando maravilhosamente bem para implementar medidas perenes socioambientais e de economia circular. Acredito muito na competência dos grupos trabalhando nisso.

E para alegrar o mês de novembro teremos mais uma edição da Virada Sustentável a partir de 29 de novembro. A programação na cidade toda está maravilhosa e recomendo especialmente a Casa das Rosas, na av. Paulista, com apresentações imperdíveis como a maquete dinâmica do ciclo da Água do prof. José Carlos Perdigão que viralizou nas mídias sociais, o poderoso documentário Biocêntricos com roda de conversa com a diretora Fernanda Heinz, a apresentação do projeto Galerias que convida artistas renomados a pintarem obras nas casas de uma vila para atrair turismo ao local, o cineasta Caio Ferraz com o documentário “De onde vem a Água” e roda de conversa, o lançamento da Cartilha de Educação Climática para Famílias e Educadores produzida pelo “Famílias pelo Clima” (Fridays for Future), uma roda de conversa da Schumacher Brasil com a indígena Jerá Guarani, o Gandhi estará lá num espetáculo pocket com o ator João Signorelli, Claudia Visoni está apresentando uma conversa sobre Eco Bairro e Feliz-Cidade, teremos o Slam das Minas, o Jogo da Sustentabilidade produzido pela Fundação Rede Brasil Sustentável e o Jogo infantil do Famílias pelo Clima. Como eu disse imperdível a partir do dia 29 de novembro na Casa das Rosas durante a Virada Sustentável.

Que venha novembro!

A Foto que ilustra esse texto é de autoria da Mayara Subtil publicada no G1

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Alan Dubner
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Written by Alan Dubner

Consultoria em Sistemas de Aprendizagem e Educação para Sustentabilidade

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